Tuesday, March 13, 2007

(sem título)

Tiro uma passa mais prolongada, esmago o cigarro no desterro do cinzeiro, cheio de beatas e cinza, cinza desfeita como eu. Abro as janelas engreno a quinta e fujo à fila, encostado à faixa mais da direita fuzilando quem se atravessa com os máximos. Quem dera que os engarrafamentos da alma se pudessem furar assim. Quem me dera poder escolher a próxima saída e escolher melhor o percurso sem confusão. E tudo parece tão simples não é?

MMS

Thursday, March 08, 2007

Nem sempre o corpo se parece

Nem sempre o corpo se parece com
um bosque, nem sempre o sol
atravessa o vidro,
ou um melro canta na neve.
Há um modo de olhar vindo
do deserto,
mirrado sopro de folhas,
de lábios, digo.


Eugénio de Andrade

Wednesday, March 07, 2007

O que desejei às vezes

O que desejei às vezes
Diante do teu olhar,
Diante da tua boca!

Quase que choro de pena
Medindo aquela ansiedade
Pela de hoje - que é tão pouca!

Tão pouca que nem existe!

De tudo quanto nós fomos,
Apenas sei que sou triste.


António Botto