Não quero ser o último a comer-te
Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde
em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde
a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intacta, renascida,
para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.
Carlos Drummond de Andrade
1 Comments:
Hey pá... Tass? Não conecia este poema mas gostei. Apesar de não ser o tipo de poesia que mais gosto... Porém... Não sei se entendi bem a simbologia do "comer-te".
Se poderes dá um salto no meu blog.
Fica bem
Salvador
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